A 56ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro chegou ao fim neste sábado (16/12) com cerimônia prestigiada por artistas, cineastas e amantes do cinema nacional no Cine Brasília. Mais um Dia, Zona Norte, de Allan Ribeiro, conquistou troféu Candango de melhor longa-metragem pelo Júri Oficial da Mostra Competitiva Nacional.
A produção carioca também foi a que mais arrematou troféus na noite, sendo agraciada também com os prêmios de melhor ator e atriz coadjuvante (para Victor Veiga e Valéria Silva), melhor trilha sonora (para Allan e o músico Tibor Fittel) e ainda com as honrarias especiais do júri (para Silvio Fernandes); da crítica, entregue pelo Júri Abraccine; e do Prêmio Like, que concede R$ 50 mil em mídia para difusão do filme no Canal Like.
O brasiliense Cartório das Almas, de Leo Bello, caiu nas graças do público na Competitiva Nacional, com o troféu de melhor longa-metragem pelo Júri Popular. A produção levou também os Candangos de melhor edição de som (Olivia Hernandez) e de melhor direção de arte (Maíra Carvalho).
Na Mostra Brasília, o júri do 25º Troféu Câmara Legislativa do Distrito Federal consagrou o documentário sobre o teatrólogo uruguaio-brasiliense Hugo Rodas. Rodas de Gigante foi premiado como melhor longa pelo Júri Oficial, além de melhor direção (Catarina Accioly) e melhor montagem (Sérgio Azevedo). Não Existe Almoço Grátis, de Marcos Nepomuceno e Pedro Charbel foi o melhor longa segundo o Júri Popular e ainda recebeu menção honrosa do Júri Oficial.
Representatividade negra
O protagonismo negro foi o grande destaque desta edição do Festival de Brasília. As categorias que reconheceram os melhores atores, principais e coadjuvantes, por exemplo, foi praticamente dominada por artistas pretos.
O fato foi comemorado pelos vencedores, entre eles Grace Passô, candango de melhor atriz por O Dia Que Te Conheci. “Esse filme é um filme de amor. Isso diz respeito a esse filme mas também da responsabilidade do cinema nacional. É muito bom poder fazer um filme de amor”, celebrou Grace.
“Era um set pequeno, predominantemente de pessoas negras e onde a gente tentava vencer as dificuldades de se fazer um filme no Brasil. A gente está num momento em que tem muita coisa sendo debatida sobre o que é, como podemos valorizar nossos trabalhos (…) Onde existe uma pá de gente tentando estruturar e pensar questões estruturais para que o audiovisual seja um campo onde a gente posso de fato existir. A gente quem? O cinema nacional, porque o cinema nacional é obrigatoriamente o cinema preto”, refletiu.
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Protesto por acessibilidade
Apesar de ter prometido um evento inclusivo, o encerramento do Festival de Brasília contou com manifestação de um grupo de pessoas com deficiência, que cobraram ações para garantir a presença de PCDs na mostra.
A estudante de cinema Beatriz Cruz, responsável pelo protesto, afirma 49% dos filmes exibidos no Festival não têm legenda e 26,5% não apresentam audiodescrição. Ela também chama atenção para a falta de acessibilidade no interior do Cine Brasília. “Ficamos de fora”, lamenta.
“Eles [O festival] estão com um aplicativo de celular que não funciona em qualquer aparelho. A galera que conseguiu acessar, na hora do filme, dessincronizou, ficou travando. Ninguém que está aqui e tentou assistir conseguiu”, destaca.
Beatriz foi convidada a falar sobre o tema no início da cerimônia. “Se nós fizéssemos um filme em libras e mandássemos pro festival sem legenda, sem áudio, quantos de vocês conseguiriam entender?”, questionou.
A fala da estudante foi apoiada pela diretora artística do festival, Anna Karina de Carvalho. “Essa questão se faz presente, mas os festivais precisam de orçamento, nenhum festival consegue sobreviver sem milagre. É preciso atenção de quem faz as políticas públicas, pra colocar como prioridade”, discursou.
Em nota, a organização do Festival de Brasília afirmou que “acolheu todas as manifestações e está sensível e comprometido em melhorar ainda mais os recursos de acessibilidade para a próxima edição”.
Polêmica com filme de encerramento
O encerramento do 56ª não contou com a exibição do filme Raoni, Uma Amizade Improvável, como estava previsto na programação. Na manhã deste sábado, a organização do festival divulgou nota em que afirma ter cancelado a sessão por causa dos “recentes acontecimentos deflagrados pela imprensa nacional esta semana, envolvendo a direção do filme Raoni – Uma Amizade Improvável.
Raoni Metuktire, líder dos Kayapó, rompeu a parceria com o cineasta belga Jean-Pierre Dutilleux, que era justamente objeto central do longa.
Por cinco décadas, eles trabalharam juntos para sensibilizar autoridades no mundo todo sobre temáticas relacionadas aos povos indígenas brasileiros e a proteção de suas terras. O indígena, contudo, acusa Dutilleux de ter retido recursos arrecadados para os Kayapó e de explorar sua imagem e a reputação para impulsionar a própria influência e carreira cinematográfica.
Confira a lista de vencedores do 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro:
MOSTRA COMPETITIVA – LONGAS-METRAGENS
Melhor Longa-metragem pelo Júri Oficial: Mais um Dia, Zona Norte, de Allan Ribeiro
Melhor Longa-metragem pelo Júri Popular – Cartório das Almas, de Léo Bello
Melhor Direção – Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho – A Transfomação de Canuto
Melhor Ator- Renato Novaes – O Dia que Te Conheci
Melhor Atriz – Grace Passô – O Dia que Te Conheci
Melhor Ator Coadjuvante – Vitor Veiga – Mais Um Dia, Zona Norte
Melhor Atriz Coadjuvante – Valeria Silva
Melhor Roteiro – André Novais Oliveira – O Dia Que Te Conheci
Melhor Fotografia -Camila Freitas – A Transformação de Canuto
Melhor Direção de Arte – Maíra Carvalho – Cartório das Almas
Melhor Trilha Sonora – Allan Ribeiro e Tibor Fittel – Mais Um Dia, Zona Norte
Melhor Edição de Som – Olívia Hernandez – Cartório das Almas
Melhor Montagem – Renata Baldi e Sandra Kogut – No Céu da Pátria Nesse Instante
Melhor Filme com Temática Afirmativa – Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho – A Transformação de Canuto
Menção Honrosa do Júri
Não Existe Almoço Grátis, Marcos Nepomuceno e Pedro Charbel
Mais Um Dia, Zona Norte – Silvio Fernandes
Prêmio Especial do Júri
No Céu da Pátria Nesse Instante
MOSTRA COMPETITIVA – CURTAS-METRAGENS
Melhor Curta-Metragem pelo Júri Oficial – Pastrana, Gabriel Motta e Melissa Brogni
Melhor Curta-metragem pelo Júri Popular – Vão das Almas, Edileuza Penha de Sousa e Santiago Dellape
Melhor Direção – GG Fákòlàdé, Remendo
Melhor Ator – Elídio Netto – Remendo
Melhor Atriz – Jhonnã Bao
Melhor Roteiro – Catapreta – Dona Beatriz Ñsîmba Vita
Melhor Fotografia- Pedro Rodrigues – Helena de Guaratiba
Melhor Direção de Arte – Carmen San Thiago – Cáustico
Melhor Trilha Sonora – DJ Machintal – Helena de Guaratiba
Melhor Edição de Som – Janaína Lacerda – Axé Meu Amor
Melhor Montagem – Bruno Carboni – Pastrana
Melhor Filme de Temática Afirmativa – Erguida – Jhonnã Bao
Menção Honrosa:
Cidade By Motoboy, Mariana Vita
Vão das Almas, Edileuza Penha de Sousa e Santiago Dellape
25º TROFÉU CÂMARA LEGISLATIVA – MOSTRA BRASÍLIA – LONGAS E CURTAS
Melhor Longa-metragem pelo Júri Oficial – Rodas de Gigante, de Catarina Accioly
Melhor Curta-Metragem pelo Júri Oficial – Instante, de Paola Veiga
Melhor Longa-metragem pelo Júri Popular – Não Existe Almoço Grátis, Marcos Nepomuceno e Pedro Charbel
Melhor Curta-metragem pelo Júri Popular – Nada se Perde, Renan Montenegro
Melhor Direção – Catarina Accioly – Rodas de Gigante
Melhor Ator – Thalles Cabral – Ecos do Silêncio
Melhor Atriz – Roberta Rangel – Instantep
Melhor Roteiro – Roberta Rangel, Paola Veita e Emanuel Lavor – Instante
Melhor Fotografia – Krishna Schimidt e André Carvalheira – Ecos do Silêncio
Melhor Direção de Arte – João Capoulade, Juliet Jones e Sarah Guedes – O Sonho de Clarice
Melhor Trilha Sonora – César Lignelli – O Sonho de Clarice
Melhor Edição de Som – Fernando Vieira e Francisco Vasconcelos – O Sonho de Clarice
Melhor Montagem – Sérgio Azevedo – Rodas Gigantes
Menção Honrosa:
Estrela da Tarde, Francisco Rio
Nada de Perde, Renan Montenegro
OUTROS PRÊMIOS
PRÊMIO ZÓZIMO BULBUL
Melhor Longa-metragem: O Dia Que Te Conheci, de André Novais Oliveira
Melhor Curta-metragem: Erguida, de Jhoannã Bao
Menção Honrosa: A Chuva do Caju
PRÊMIO ABRACCINE
Melhor Longa-metragem: Mais Um Dia, Zona Norte, de Allan Ribeiro
Melhor Curta-metragem: Remendo, de GG Fákòlàdé
PRÊMIO CANAL BRASIL DE CURTAS
Pastrana, de Gabriel Motta e Melissa Brogni
PRÊMIO SARUÊ
Rodas de Gigante, de Catarina Accioly
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